O conceito de saúde, por muito tempo, foi definido como a ausência de doenças. Entretanto, no ano de 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ampliou esse conceito para: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. Esse conceito de saúde perdura até os dias atuais.
O assunto saúde é tão importante que o Governo Brasileiro instituiu a data 05 de agosto como o Dia Nacional da Saúde, na intenção de promover a conscientização da população. Saiba mais sobre o conceito de saúde lendo o artigo abaixo:
Quais fatores afetam a saúde?
A saúde pode ser afetada por vários fatores. Alguns deles são os microrganismos, como vírus e bactérias. Outros são as alterações nos neurotransmissores, responsáveis pelas doenças mentais. Têm também as mutações genéticas, que podem desencadear câncer. Além do desequilíbrio no sistema imunológico, causador de doenças autoimunes. Isso porque todos eles são fatores que afetam o estado de saúde.
Esses fatores quebram a homeostasia, que nada mais é do que o nome dado a capacidade de o corpo reestabelecer o equilíbrio por meio de processos fisiológico. Por exemplo, o ato de comer aumenta a glicose no sangue, assim o corpo libera insulina para que o excesso dessa substância seja retirado e a glicemia volte ao normal. Desse modo, qualquer processo que impeça o reestabelecimento da homeostasia, cria um estado patológico.
Todavia, esses fatores citados são representantes de alterações biológicas. Essas correspondem a uma parcela pequena no que determina a manifestação de uma doença. Isso porque também existem outros fatores que a saúde de um indivíduo e precisam ser levados em consideração.
Por exemplo, o acesso aos serviços médicos, o próprio comportamento individual e as condições sociais das pessoas possuem um peso grande para que o estado de saúde seja quebrado. Esse conjunto de fatores, incluindo o biológico, é chamado determinantes da saúde, sendo os determinantes sociais da saúde os que mais contribuem no processo de enfermidades. Mais informações sobre os determinantes sociais da saúde podem ser encontradas aqui.
Histórico das doenças e do conceito de saúde:
Na antiguidade, acreditava-se que os processos que envolviam a saúde e a doença eram mágicos e/ou religiosos. Uma pessoa adoecia por forças externas, alheias a ela. O indivíduo ou foi amaldiçoado ou estava sendo punido por um pecado.
Entretanto, já existiam pessoas que não acreditavam no caráter místico da saúde e da doença. Hipócrates, figura de grande importância na medicina e na epidemiologia, pregava que era sim possível combater e prevenir as doenças. Isso porque, para ele, o conceito de saúde se baseava no equilíbrio entre os quatro fluidos: bile negra, bile amarela, fleuma e sangue. Esses fluidos, chamados por Hipócrates, de humores, foram conceitos desenvolvidos por ele mesmo.
E, se o conceito de saúde era o equilíbrio dos humores, a doença nada mais era que o desequilíbrio. Logo, manter o equilíbrio prevenia as doenças e tratar o desequilíbrio as curava.
Todavia, Hipocrátes não considerada somente os fatores biológicos no processo das enfermidades. Ele também associava aos fatores ambientais. Suas teorias e textos foram responsáveis por originar a ideia dos miasmas.
Essa ideia pregava que o ar vindo de regiões insalubres, como os pântanos, era responsável por causar as enfermidades. Malária, por exemplo, uma doença bem comum no sul da Europa na época do Império romano, foi batizada a partir dessa teoria. O significado dela é “maus ares”, pois se acreditava que ela era transmitida pelo ar insalubre.
O conceito de saúde no oriente seguiu uma linha parecida com a do equilíbrio dos fluidos. Entretanto, possui suas singularidades, pois estava mais ligado a forças vitais. Para se manter um bom estado de saúde, era preciso manter essas forças equilibradas. A criação de acupuntura, ioga e outras técnicas de medicina alternativa foram desenvolvidas para manter esse equilíbrio.
Descoberta dos microrganismos
Entretanto, o conceito de saúde começou a mudar quando a ciência conseguiu avançar. Surgiram evidências fortes de que existiam fatores externos, mas não sobrenaturais, que eram a causa das doenças. O conceito de saúde não era mais o equilíbrio dos humores ou das forças, porque as doenças não eram mais causadas por simples desequilíbrios.
Dessa forma, as pessoas passaram a entender que as doenças afetam o interior do corpo, ou seja, os órgãos eram os afetados. O conceito de saúde dessa época era “o silêncio dos órgãos”. O corpo humano era visto como uma máquina e, se suas partes funcionavam bem, existia saúde.
Todavia, o avanço mais significativo para entender o processo saúde-doença foi o microscópio. Essa invenção conseguiu comprovar a existência de microrganismos. A doença, pela primeira vez, tinha sua etiologia identificada.
Junto com a descoberta desses agentes patológicos, ocorreu o desenvolvimento de remédios, vacinas e soros. O tratamento das doenças e a prevenção delas teve uma melhora significativa. Além disso, o estudo das enfermidades e o desenvolvimento da epidemiologia também foram extremamente beneficiados.
O conceito de saúde passou a ser a ausência de doenças. Entretanto, outras evidências surgiram associando as enfermidades a outras causas e não só aos microrganismos. Foi possível ligar o estado de saúde de uma pessoa as condições sociais e a qualidade do saneamento básico que ela se encontrava. Assim, o conceito de saúde não poderia estar ligado somente a doenças.
Entretanto, não havia um consenso entre as nações do que era o conceito de saúde. Por isso, a OMS, criada após a Segunda Guerra Mundial, ficou incumbida de elaborar esse conceito originando o já citado: saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”, de 1948.
Conceito da OMS: ultrapassado?
Esse conceito criado pela OMS, que poderia ser considerado até avançado para a época, não foi atualizado. Isso o tornou ultrapassado para os dias atuais.
A primeira crítica a esse conceito é a idealização da saúde. Isso porque é impossível alcançar o estado de saúde apresentado pela OMS. O próprio acordo social criado pelas sociedades para manter a civilização já é suficiente para impedir que o conceito de saúde da OMS seja válido. A vida em sociedade requer renúncias individuais para que o bem-estar coletivo seja viável. Isso, por isso só, já é o suficiente para que o completo bem-estar individual seja prejudicado.
Além disso, a vida de qualquer pessoa sempre apresenta dificuldades e incertezas. O ser humano é feito de dúvidas e medos. Ou seja, ninguém consegue apresentar um estado de felicidade o tempo todo. Inclusive, foi criada uma síndrome da felicidade para denominar pessoas que se encontram em estado de plenitude o tempo todo. Essas pessoas, geralmente, apresentam algum transtorno psicológico. Por isso, conseguem se manter nesse estado.
Entretanto, talvez a maior falha da definição da OMS seja a separação entre o físico e o mental. Existem vários indícios que essa divisão não existe, uma alteração mental pode indicar manifestações físicas e vice-versa.
Além disso, o aspecto social, que envolve a cultura, as relações interpessoais e a qualidade de vida, também precisa ser considerado como parte integrante do conceito de saúde. Dessa forma, o conceito de saúde atual da OMS, que ainda é o utilizado, precisa urgentemente de uma atualização para se tornar mais adequado aos conhecimentos atuais.
Todavia, isso não é um demérito da OMS, como visto ao longo desse artigo, o conceito de saúde tende a mudar e se adaptar à medida que o conhecimento e a sociedade evoluem.